O despertar completo da Kundalini - Terceira Parte
- Anuloma e Dr. Robert Svoboda
- Jun 29, 2017
- 6 min read
Nos últimos textos discutimos o conceito de kundalini, bem como que antes do movimento ascendente acontecer é imperativo o movimento descendente completo, com intuito de identificar e adquirir o combustível necessário para catalisar a ascensão. Cabe agora ponderar sobre a relação da kundalini na mediação do indivíduo com o universo.
A antiga lei do Microcosmo e Macrocosmo nos diz que não existe uma diferença real entre o vasto universo externo e o universo interno limitado do corpo humano, com a exceção de que o indivíduo acredita ser diferente e separado. Um ser humano é um microcosmo vivo do universo e o universo é um macrocosmo vivo do ser humano. Cada cosmo afeta o outro; o universo nos afeta, momento a momento, e cada um de nós por nossas ações influenciamos todo o cosmos, para melhor ou pior. O cosmos é o corpo do Absoluto, o veículo pelo qual o Absoluto se expressa. Cada coisa criada no universo contém ao menos uma faísca da consciência universal que é o Absoluto, mas a maioria das coisas não consegue expressar adequadamente essa consciência.
Chit Shakti (o poder da consciencia ou subjetividade) identifica-se com o Absoluto não manifesto e Maya Shakti (o poder da inconsciencia ou objetividade) identifica-se com o mundo, a manifestação do Absoluto. Estas duas shaktis não podem existir uma sem a outra. Até na forma de matéria mais grosseira existe uma faísca de consciência - é por isso que dizemos que até as pedras estão vivas - e até nos estados de consciência mais elevados existe uma partícula de Maya, que perdura enquanto persistir o senso de individualidade. Quando aprender a verdade do universo, você esquece sua própria individualidade e se lembra da sua verdadeira natureza; só assim, quando você não mais existir, Maya não existe mais para você.
O Uno existe no Todo, e o Todo define o Uno, unidade e dualidade ambos existem simultaneamente. Onde quer que Chit Shakti se manifeste existe inteligência e sensação; caso contrário existe ignorância e insensibilidade. O corpo humano é o veículo no qual a consciência é derramada, de acordo com a capacidade individual, preenchendo o corpo pelo sistema nervoso. A coluna e a medula espinhal carregam a consciência do cérebro, o pólo da mais elevada atenção-consciente denominada Shiva, até o cóccix, o pólo de maior densidade. Cada célula do corpo expressa seu próprio tipo de consciência de acordo com sua capacidade.
Na base da medula espinhal sutil no corpo sutil reside a shakti de individuação residual, uma energia que permanece inacessível ao indivíduo enquanto a consciência deste permanece firmemente fixada com o mundano. Essa energia é o nosso fragmento pessoal do poder cósmico de auto-identificação. Graças unicamente a este senso de Eu chamado ahamkara que nós existimos como indivíduos.
A expressão da shakti em nosso corpo é chamada de prana, a força vital, o poder que mantém corpo, mente e espirito funcionando juntos como uma unidade viva. Todas as partes do ser requerem prana. A vida física, saúde e longevidade requerem que o ahamkara se identifique fortemente com o organismo individual para que prana suficiente oferte vida para o corpo, enquanto a saúde espiritual requer que o ahamkara abandone a maior parte dos seus apegos. Assim como cada planta requer uma quantidade apropriada de sol e chuva para florescer, assim também o ser humano requer quantidades certas de luz da atenção-consciente espiritual e da cobertura das nuvens da auto-identificação para prosperar. Muito espírito queima o mundo de você e faz com que seja impossível reter o corpo; muito apego afunda sua consciência no mundano.
Em um ser humano ordinário o ahamkara está completamente identificado com o corpo e com a personalidade limitada, assim todas as ações são direcionadas a esse self limitado. Cada realidade microcosmica é influenciada pelas outras, todos nós somos influenciados pelas projeções uns dos outros e somos definidos em grande parte por elas. Nossa personalidade consciente que gostamos de pensar como estável e constante é na realidade meramente um agregado de idéias com as quais nos auto-identificamos temporariamente. A personalidade consciente é como um museu onde o curador - ahamkara - seleciona objetos do depósito - nosso subconsciente - para mostrar aos demais. Estes objetos são organizados em exibições, o fragmento da personalidade que cada um de nós trata como se fosse a personalidade enquanto predominante. Exibições mais populares duram mais tempo, enquanto as menos padronizadas mudam com mais frequência. Eventualmente o museu irá a falência, no momento da morte quando o ego abandona completamente a personalidade que segurou por tantos anos.
A maioria das pessoas nunca nota as flutuações constantes de criação e destruição de suas personalidades, não mais que elas percebem os quadros individuais de um filme. A perpétua mudança de auto-identificação entre esses vários pedaços de personalidade consume tremendas quantidades de energia e mantém o ahamkara bem preocupado. Somente quando alguma experiência intensa de vida acontece, e culmina em um questionamento existencial, você começa a acordar do contentamento ignorante com Maya, assim como o filho pródigo acordou e percebeu que estava jantando do resto dos porcos, dando os primeiros passos em direção a luz da atenção-consciente.
Kundalini eventualmente irá despertar em todos os seres no universo. Se você prefere aproveitar as vicissitudes do karma você pode aguardar para que esse despertar aconteça; caso contrário você pode buscar esse estado.
Seja o que for que você deseja eventualmente virá até você; esse é o magnetismo da Natureza. Ela vai sempre eventualmente te dar aquilo que você pede; é só uma questão de tempo. Se o seu desejo é o produto de uma mente controlada e coerente você atingirá rápido. Logo, se você deseja Deus você eventualmente chegará a Deus, quanto a isso não existe qualquer dúvida. Agora a quantidade de tempo que vai demorar, qual o abismo entre o seu desejo e o resultado, depende do quanto você quer Deus. Uma vez que você se torna realmente ansioso para localizar Deus, e sua mente fica focada neste desejo, você pode atingir sem muita demora.

A Kundalini Shakti é a forma mais elevada de expressão da força de vontade individual. Quando você purifica tanto a sua vontade que pode ser direcionada a uma objeto único por vez - coerente como um laser - você poderá afirmar que a Kundalini está operando em você, mas não antes. Qualquer coisa viajando nessa velocidade tem que ter uma tremenda quantidade de energia por trás e poucas pessoas conseguem conter esse poder.
Somente aqueles corajosos o suficiente para perturbar a sonolência do mundo ao redor deles e gritar que o imperador está nu possuem a força para aguentar a censura das demais ovelhas. Quando nós invocamos a realidade suprema para pedir coisas mundanas, que nos prendem às formas limitadas, ela aparece como Maya; quando rezamos para o poder e energias dela, ela é manifestada como Shakti; e para os poucos que interagem como ela de forma materna, ela se revela como Ma, Deus como mãe, irradiando infinitas virtudes e a mais pura luz da atenção-consciente amorosa.
Convencionalmente a shakti suprema reside na parte inferior da medula espinhal porque a gravidade tem total poder sobre ela. Enquanto ela estiver lá adormecida o indivíduo permanece em ignorância uma vez que se indivíduo se identifica com sua personalidade limitada. Devido a essa auto identificação ela aceita os seus limites como limites dela. Na forma mais pura, a Kundalini é a shakti mais elevada, mas enquanto ela se auto-identifica com o corpo ela permanece sob três coberturas que previnem ela de lembrar quem ela é e onde ela pertence. Essas três coberturas são os três Gunas (Sattva, Rajas e Tamas), os Seis Sabores (doce, azedo, salgado, amargo, picante e adstringente), os Cinco Grandes Elementos (Terra, Água, Fogo, Ar e Espaço ou Ether).
Os Gunas controlam nossas mentes, os Elementos formam nossos corpos e o mundo ao redor e os sabores controlam nossa química interna, que liga nossos corpos e mentes juntos. Junto com os dez sentidos (os cinco habituais mais lingua, mãos, pés, anus e genital) existem vinte e quatro limitações que distorcem a consciência humana.
Se quer liberar o ego de suas restrições você deve criar força no seu corpo para contrapor a força da gravidade, isso só pode ser feito por meio de um sadhana eficiente ou penitências. O propósito de todas as práticas espirituais em todas as religiões é soltar o ahamkara da sua identificação com a personalidade limitada e passar a identificar com a personalidade perene.
Para fazer a Kundalini subir da base da sua coluna você deve criar uma pressão suficiente para forçar ela para fora do Muladhara Chakra. Esse movimento ascendente só vai continuar enquanto essa pressão persistir, sem ela a Kundalini cai de volta, devido a gravidade. Já vimos que energia vital se manifesta nos seres vivos como prana, logo você nunca vai conseguir ascender a Kundalini sem o controle do fluxo de prana no seu corpo. Kundalini só pode sair do Muladhara Chakra quando Prana, que normalmente se move para cima, começar a mover para baixo a Apana, que normalmente se move para baixo, começar a se mover para cima. Somente quando Prana e Apana são invertidos e suas “bocas” se encontram o movimento ascendente da Kundalini pode começar.